Alguém, em algum lugar

Em junho de 2007, meu mundo caiu com a seguinte frase: SEU EXAME DEU POSITIVO! Pronto, naquele momento perdi o chão, os sonhos, meu eu, ficou tudo no chão daquela sala do CTA Henfil no centro de São Paulo... Enquanto a assistente social falava que não era o fim do mundo e blá blá blá, eu só conseguia repetir dentro da minha cabeça: EU TENHO AIDS! EU TENHO AIDS! EU TENHO AIDS! É complicado receber uma notícia dessas aos 26 anos, com muitos sonhos pela frente, muito a fazer, a me divertir e até a aprontar... Sai sem alma do CTA, caminhando pelas ruas com o exame no bolso sem saber o que pensar, falar, ver ou até ser, eu não sabia mais como ia ser o futuro, se haveria futuro, se eu seria feliz, enfim, não sei o que se passa na cabeça de quem descobre isso, na minha, uma gigante interrogação, me sentia como Luciana Scotti, em Sem Asas ao Amanhecer (ótima dica de leitura)...Eu nunca tinho ficado doente, nem gripe forte eu tivera, sempre fui muito saudável, muito regrado, meio tonto até, não era promíscuo, uma vida sexual normal de conhecer, paquerar, transar, como qualquer cara interessante e solteiro solto aí pelo mundo, mas tinha acontecido comigo, justo comigo...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Saindo do CTA, meus primeiros passos como soro+

Pisando sem sentir o chão, sem sentir meu corpo, nem minha alma, era como se eu tivesse deixado de existir, instantaneamente, eu andava pelas ruas do centro, pelo viaduto do chá, mas não raciocinava, só olhava pras pessoas e me perguntava se elas estavam olhando pra mim, se elas sabiam... Depois de andar decidir ir pra casa... Estático, sem emoções, como se meu coração não batesse, como se não tivesse coração... Não sei se vocêm já se sentiu assim, como se realmente não existisse mais...
Dirigindo naquele miolinho intrafagáel no centro de São Paulo, só conseguia ouvir na minha mente a voz da assistente social falando: Pera aí, deu positivo! E eu não sabia pensar em mais nada (menos mal, porque não conseguia nem pensar em me jogar de cima da ponte). Um transito infernal na marginal tietê, meu mundo acabando e todo mundo levando uma vida normal, dentro dos seus carros indo pras suas casas...
Peguei a rod. dos bandeirantes rumo ao Rodoanel pra ir pra minha cidade, quando o transito sumiu e eu fiquei no meio de poucos carros vi o sol se pondo bem grande, na minha frente e naquela hora eu percebi que cada pôr¬do¬sol dali pra frente seria importante (eu que não reparava nele há séculos) e que daqui pra frente tudo seria importante... Entrei na rodovia local na minha cidade e olhei a placa de bem¬vindo, as colinas e as casas e predios aparecendo pouco a pouco, percebi que eu nunca tinha dado importância pr'aquilo antes...

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, tudo bem? O meu nome é Silmara Retti,sou escritora, trabalho no Programa de Dst/Aids de Ubatuba, onde também sou paciente há dez anos.
Neste mês lancei o livro: Flash, você sabe o que eu tenho? - Editora Parentese - O livro é um romance de auto-ajuda e está na seção Minha História da Revista Saber Viver deste mês.Gostaria que conhecesse.Vc escreve muito bem e o seu site é lindo!

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