Alguém, em algum lugar

Em junho de 2007, meu mundo caiu com a seguinte frase: SEU EXAME DEU POSITIVO! Pronto, naquele momento perdi o chão, os sonhos, meu eu, ficou tudo no chão daquela sala do CTA Henfil no centro de São Paulo... Enquanto a assistente social falava que não era o fim do mundo e blá blá blá, eu só conseguia repetir dentro da minha cabeça: EU TENHO AIDS! EU TENHO AIDS! EU TENHO AIDS! É complicado receber uma notícia dessas aos 26 anos, com muitos sonhos pela frente, muito a fazer, a me divertir e até a aprontar... Sai sem alma do CTA, caminhando pelas ruas com o exame no bolso sem saber o que pensar, falar, ver ou até ser, eu não sabia mais como ia ser o futuro, se haveria futuro, se eu seria feliz, enfim, não sei o que se passa na cabeça de quem descobre isso, na minha, uma gigante interrogação, me sentia como Luciana Scotti, em Sem Asas ao Amanhecer (ótima dica de leitura)...Eu nunca tinho ficado doente, nem gripe forte eu tivera, sempre fui muito saudável, muito regrado, meio tonto até, não era promíscuo, uma vida sexual normal de conhecer, paquerar, transar, como qualquer cara interessante e solteiro solto aí pelo mundo, mas tinha acontecido comigo, justo comigo...

sábado, 15 de março de 2008

O 2º resultado e a infectologista

Sabe, os quinze dias passaram tão rápidos que até me esqueci que tinha chegado o dia de pegar o segundo resultado e lá estava eu de volta, novamente sentado na sala de espera do CTA...
Nem adiantava eu fazer qualquer promessa que fosse pra Deus para o 2º exame dar negativo, até porque eu sabia que fosse o que prometesse eu não iria cumprir e, no mais, eu sabia que seria um drama de novela demais o meu primeiro exame ter sido um erro por qualquer motivo que fosse, lembro que no primeiro resultado a moça falou: Olha, ainda pode dar negativo o segundo exame! Eu simplesmente falei que confiava na ciencia e nos métodos diagnósticos.
E foi exatamente o que ela me disse qdo tirou o segundo exame no envelope: È, você disse que confiava na ciência, é realmente, a sua segunda amostra deu positivo, foi confirmada pelo western blot, agora você tem um diagnótico definitivo...
Ela começou a tirar um monte de papel do envelope e disse que teria que me fazer umas perguntas, começou perguntando se eu tinha muitos parceiros, se eram todos homens, se eu usava drogas, bebia, fumava, se meu trabalho oferecia algum risco... Respondia a tudo que ela perguntava prontamente, mas na minha mente eu só conseguia pensar: Puxa! A porra do meu mundo desabando e ela preocupada em terminar o trabalho dela e me liberar! Mas sabe, apesar do meu pré conceito em relação ao procedimento reconheço que fui muito bem atendido por ela e pelo pessoal do CTA.
Ela me disse que eu precisaria procurar um CTA que tiesse acompanhamento de um infectologista, pois lá só fazia testagem e aconselhamento e me deu uma guia de encaminhamento, que pra mim não ia ser muito útil, afinal eu não morava em são paulo, fiz o exame o mais longe possível da minha cidade, e começou o meu drama, em procurar um infectologista na minha cidade...
Demorei pra procurar um médico, toda vez que eu passava na frente do CTA da minha cidade eu passava direto, outras vezes eu estacionava, ficava um tempo parado, mas não tinha coragem de entrar, sempre com os mesmos medos: E se eu encontrar alguém conhecido? Se alguem descobrir? Se o atendimento for ruim?
Diversas vezes ligava pro CTA pra pedir informações e desligava o telefone na cara da atendente na hora que alguém entrava na minha sala no trabalho...
E assim passei, mais de um mês pra conseguir entrar no CTA e marcar com a infectologista, mas acabei fazendo, um dia tomei coragem, entrei e falei: Olha, eu fiz meus exames em são paulo e o exame de HIV deu positivo e me informaram que eu devia procurar um infectologista na minha cidade... A atendente simplesmente falou: Pois não, o sr já passou aqui alguma vez? Se não terá que trazer cópia de seus documentos e comprovante de endereço pra fazermos seu cadastro, mas o sr. já pode marcar com a infectologista pra semana que vem...
Sabe, engraçado como isso é tão rotineiro pros profissionais de saúde, que a atendente não se impressionou com nada, falou comigo como se eu tivesse marcando um dentista... Na verdade eu não sei porque, mas me sentia um ET pelo fato de ser soropositivo, sabe, não me sentia mais um homem normal, comum, como sempre fora...
Levei toda a documentação e uma semana após estava eu sentado frente a frente com a infectologista. Uma médica simpatica, de sorriso terno, nem muito jovem, nem muito velha, parecia competente, começou a me falar sobre o funcionamento do monitoramento, da necessidade de fazer diversos exames iniciais pra ter noção do meu estado geral, preencheu um monte de papel e me disse que eu poderia passar com a psicóloga se achasse necessário e muitos outros blá blá blás...
Saí da sala lotado de guia pra divversos exames, colesterol, pesquisa pra todo tipo de bactéria, pra pesquisa de tuberculose, exame de urina, de fezes, trocentos exames de sangue, consegui marcar a psicóloga pro dia seguinte...


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