Alguém, em algum lugar

Em junho de 2007, meu mundo caiu com a seguinte frase: SEU EXAME DEU POSITIVO! Pronto, naquele momento perdi o chão, os sonhos, meu eu, ficou tudo no chão daquela sala do CTA Henfil no centro de São Paulo... Enquanto a assistente social falava que não era o fim do mundo e blá blá blá, eu só conseguia repetir dentro da minha cabeça: EU TENHO AIDS! EU TENHO AIDS! EU TENHO AIDS! É complicado receber uma notícia dessas aos 26 anos, com muitos sonhos pela frente, muito a fazer, a me divertir e até a aprontar... Sai sem alma do CTA, caminhando pelas ruas com o exame no bolso sem saber o que pensar, falar, ver ou até ser, eu não sabia mais como ia ser o futuro, se haveria futuro, se eu seria feliz, enfim, não sei o que se passa na cabeça de quem descobre isso, na minha, uma gigante interrogação, me sentia como Luciana Scotti, em Sem Asas ao Amanhecer (ótima dica de leitura)...Eu nunca tinho ficado doente, nem gripe forte eu tivera, sempre fui muito saudável, muito regrado, meio tonto até, não era promíscuo, uma vida sexual normal de conhecer, paquerar, transar, como qualquer cara interessante e solteiro solto aí pelo mundo, mas tinha acontecido comigo, justo comigo...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Será que eu tenho direito a ser feliz?

Por mais que tivesse tudo bem, os dias foram passando e um aperto no meu peito começou a aparecer... Sabe, as vezes a genta pára um pouco e se descobre triste e pra baixo... Eu tava num fim de tarde andando de moto numa rodovia aqui da minha cidade, qdo um bando de motoqueiros passaram por mim, um grupo viajando de moto pro interior, dava praver que eles estavam felizes, pois ficavam fazendo movimentos com suas motos formando desenhos na pista e eu começei a e perguntar se eu teria o mesmo direito disso, de fazer parte de um grupo de motoqueiros viajantes, de dançar, de dar risada com os amigos no cinema, de ficar, namorar, ser feliz...
Com um diagnóstico na mão, a vida afetiva uma bosta e meus sonhos de casar e ser feliz no chão lá do CTA Henfil em São Paulo, não sabia se havia solução pra mim... Ainda na estrada, com o vento entrando pelo meu capacete, eu sentia a nítida impressão de que eu jamais seria feliz novamente, que não ia sorrir mais com meu melhor amigo sentado encima de uma montanha, que não poeira mais brincar na chuva e voltar todo molhado e com frio pra casa, que não ia mais beijar na balada, nem ficar dormindo abraçado com alguém me sentindo o cara mais realizado do mundo... É foda qdo a gente entra nessa deprê, mas muitas vezes não há o que fazer, tem hora que parece que nada acontece, mas tem hora que a gente se vê como a pessoa mais infeliz do planeta, esquecendo que tenta gente no meio da guerra, passando fome´, enfim, nessas horas a gente sente como se a nossa dor fosse a maior e como se o mundo nem ligasse... Eu queria gritar... Mas quem ia me ouvir?

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